A oração é uma ajuda indispensável para o discernimento espiritual, sobretudo quando envolve os afetos, permitindo dirigir-nos a Deus com simplicidade e familiaridade, como se fala com um amigo. É saber ir além dos pensamentos, entrar em intimidade com o Senhor, com uma espontaneidade afetuosa. O segredo da vida dos santos é a familiaridade e a confiança em Deus, que cresce neles e torna cada vez mais fácil reconhecer o que lhe agrada. A oração verdadeira é familiaridade e confidência com Deus. Não é recitar uma oração como um papagaio. A verdadeira oração é essa espontaneidade e afeto ao Senhor. Esta familiaridade supera o medo ou a dúvida de que a sua vontade não é para o nosso bem, uma tentação que às vezes atravessa os nossos pensamentos, tornando o coração inquieto e incerto ou amargo também.
O sinal de um encontro com o Senhor é a alegria. Cada um de nós se torna alegre, uma coisa linda. Por outro lado, a tristeza ou o medo são sinais de distância de Deus: “Se quiseres entrar na vida eterna, observa os mandamentos”, diz Jesus ao jovem rico. Esse jovem tinha tomado a iniciativa de se encontrar com Jesus, mas vivia também muito dividido nos afetos; para ele as riquezas eram demasiado importantes. Jesus não o obriga a decidir, mas o texto observa que o jovem se afasta de Jesus triste. Quem se afasta do Senhor nunca se sente satisfeito, mesmo que tenha à sua disposição uma grande abundância de bens e possibilidades.
Discernir não é fácil, porque as aparências enganam, mas a familiaridade com Deus pode dissipar delicadamente dúvidas e medos, tornando a nossa vida cada vez mais receptiva à sua “luz suave”. Os santos brilham com luz refletida, mostrando nos gestos simples do seu dia a presença amorosa de Deus, que torna possível o impossível.
Estar em oração não significa apenas dizer palavras! Estar em oração é abrir o coração a Jesus, aproximar-se Dele e deixar que Ele entre no meu coração e me faça sentir sua presença. E ali podemos discernir quando é Jesus e quando estamos com nossos pensamentos, muitas vezes longe do que Jesus quer. É a graça de viver uma relação de amizade com o Senhor, como um amigo fala com um amigo. Recordo-me de um irmão religioso idoso que era porteiro de um colégio e sempre que podia se aproximava da capela, olhava para o altar e dizia: “Oi”, porque tinha proximidade a Jesus. “Oi, estou perto de você e você está perto de mim”. Esta é a relação que devemos ter na oração: proximidade afetiva, como irmãos, proximidade a Jesus. Um sorriso, um gesto simples e não dizer palavras que não chegam ao coração. Falar com Jesus como um amigo fala com outro amigo.
É uma graça que devemos pedir uns para os outros: ver Jesus como o nosso maior e fiel Amigo, sobretudo que nunca nos abandona, nem sequer quando nos afastamos d’Ele. Ele permanece na porta do coração. Ele permanece em silêncio, permanece ao alcance do coração porque Ele é sempre fiel. Vamos em frente com esta oração. Digamos a oração do “oi”, a oração para cumprimentar o Senhor com o coração, a oração de afeto, a oração da proximidade, com poucas palavras, mas com gestos e com boas obras.
Pe. Lino Baggio, SAC

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