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A simplicidade e a oração

Existem muitas formas de oração e todas são perfeitamente válidas e boas. Mesmo com toda essa riqueza espiritual, mais de dois milênios de tradição, muitas pessoas ainda não sabem como dialogar com Deus. O sincero ardor orante encontra-se encastelado em seus corações, mas o exercício da fé ainda lhes é obstáculo. Colocar-se diante de Deus com o desejo de conversar é, em si, oração e uma de suas mais sublimes formas. O diálogo íntimo pode ser resumido em uma palavra: Pai.

Pablo, um leiteiro espanhol, dá-nos um ótimo exemplo de fé e de oração. Reproduzo algo que li e guardei. Lamento não me lembrar da fonte. Vejamos:

“Conta-se, na Espanha, que um trabalhador humilde e dedicado, no começo do século passado, todos os dias entrava numa igreja, então sob os cuidados de um jovem sacerdote, um cura, como dizem os espanhóis. Era um leiteiro e o nome dele era Pablo. O humilde leiteiro entrava na igreja com as garrafas de leite a serem entregues na lida do dia, pousava-as no chão, dirigia-se ao sacrário, ajoelhava-se reverentemente, fazia o sinal da cruz e ficava sentado, cerca de 20 ou 30 minutos em absoluto silêncio. Depois, levantava-se, cumpria o pequeno ritual do início outra vez e ia embora com um sorriso estampado no rosto que brilhava e que chamou a atenção do jovem padre, um homem muito culto, piedoso e devoto. Um dia, o padre não resistiu e perguntou ao trabalhador fiel: “O que o senhor costuma dizer diante do sacrário?”. Ao que Pablo respondeu: “Nada, apenas digo, Senhor, eis teu servo Pablo, o leiteiro, que hoje trabalhará para o sustento e para te agradar… depois fico sentado olhando para Jesus e deixando que Jesus me veja. Só isso, senhor padre”. O padre, comovido, cheio de emoção, com lágrimas nos olhos, viu diante de si um homem de oração, um homem de fé, um homem sábio”. Belíssimo, não?

A fé é cheia de paradoxos. Um deles é este: a oração pode ser extremamente simples e, ao mesmo tempo, sobrenaturalmente complexa. Podemos e devemos nos valer de muitas formas de oração, mas não podemos jamais deixar de ter em nosso coração a simplicidade e o desejo de ver Cristo em cada palavra, falada ou não. E, mais importante, deixar que Cristo nos veja, nos preencha com seu amor e com sua luz, guiando-nos em tudo, especialmente no trabalho cotidiano.

A simplicidade é a forma ideal de oração, porque ela é a base da fé cristã. Deus nos dá o exemplo: as grandes verdades são transmitidas de modo muito simples. Imitemos o Senhor na sua simplicidade, fonte de grandes mistérios. Sejamos como o leiteiro espanhol. Em um gesto e poucas palavras, deu-nos profunda catequese.

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