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O mal não tem a última palavra

Há poucos dias, chamou minha atenção a expressão usada por uma mulher em situação de rua, ao receber um gesto de delicadeza e solidariedade: “Deus existe!” Uma fala espantada, uma verdadeira exclamação, como se, de fato, Deus passasse a existir como num estalo. Seguida à exclamação da existência divina, a constatação, também espantada: “Alguém gosta de mim!”. Confesso que essa situação tocou o meu coração.

Em meio a tanta injustiça há, no entanto, traços de sensibilidade que tornam viva a esperança. O mal não tem a última palavra. Nem pode ter! Mas, precisamos crer que um mundo novo, justo e fraterno, é possível. O bem que fazemos, ainda que signifique uma gota no oceano, faz esse oceano ser maior e um pouco melhor. Este é um compromisso humano, de realização de humanidade, de comprometimento com a causa de sermos pessoas, gente. As religiões têm um papel importante nisso: na construção de uma ética que nos torne mais humanos, corresponsáveis pela justiça, pela igualdade e pela fraternidade.

A vontade de se tornar alguém melhor a cada dia, é o que faz do ser humano um grande sonhador. Projetar ideias e desejos, é lutar para transformar o que um dia foi um simples pensamento em uma situação real. Nunca desistir de algo que se deseja muito e que se almeja fazer parte da vida. O ser humano sonha! Mas se ele apenas sonhasse, nunca saberia do que é capaz, é preciso conquistar sonhos.

Sim, “Deus existe!” É a exclamação de alguém que se deparou com a misericórdia. Mais que isso, é o espanto de alguém que se deparou com um gesto de compaixão, tão raro em sua dura existência. Misericórdia e compaixão são duas atitudes muito próximas, humanizadoras, indispensáveis. A misericórdia é o movimento de ir, motivado por aquilo que nos é mais profundo, ao encontro do outro. A compaixão é a capacidade sensível de se solidarizar com a dor do outro.

Deus existe! E ele age quando pessoas, em processos de humanização, são movidas pela misericórdia e pela compaixão. De fato, em nossa caminhada, precisamos ter a força da água que move a terra, da rosa que resiste aos espinhos, do sol que acorda o dia, do sorriso que revela alegria, do coração que sabe amar. Deus não é alheio às dores e sofrimentos das pessoas. Sua onipotência, que é amor, só pode se manifestar pelas mãos humanas. Não sem motivos, Deus assumiu a carne humana, fez-se um de nós, para salvar-nos desde dentro de nossa humanidade. É por meio de nossas mãos, misericordiosas e compassivas, que o mundo pode se espantar: “Deus existe!”. Não neguemos isso ao mundo! Nada nos une mais a Deus do que termos uma atitude de misericórdia e de bondade.

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