Ao longo da história, muitos movimentos foram acontecendo na relação entre pais e filhos. Nas famílias tradicionais antigas, os pais exerciam a autoridade sobre os filhos e tal autoridade tendia ao autoritarismo. Era muito comum que os filhos não tivessem espaço para se manifestar, que já fossem prometidos em casamento pelos pais sem saberem, que acabassem por se submeter às decisões e determinações paternas pelas próprias circunstâncias sociais, econômicas e culturais que se impunham.
Com o advento das ideias liberais oriundas da Revolução Francesa e a urbanização e secularização resultadas da Revolução Industrial, inaugurou-se um movimento que resultou na concepção de família moderna que vivemos hoje: famílias nucleares, cada vez mais fechadas em si mesmas e em seus interesses.
No processo de passagem de uma realidade à outra, inegavelmente muitos avanços foram feitos, erros identificados e, sem dúvida alguma, muitos ganhos aconteceram em diferentes aspectos. A própria visão de infância foi se modificando e os cuidados se ampliaram.
Acontece que também nesse processo de modernização, muitos conceitos e valores foram questionados e de algum modo “derrubados” sem que nem sequer pudessem ser vislumbrados os resultados dessa derrocada. Ideologias liberais, contaminadas com ideias de liberdade confusas, foram tomando conta do imaginário das pessoas nas empresas, nos ambientes sociais e, consequentemente, impactaram nas relações familiares, trazendo para dentro das casas uma grande crise.
Na ânsia de derrotar os totalitarismos e autoritarismos de governos, chefes, pais etc., confundiram-se os conceitos e a autoridade, tão necessária à ordem e ao bom desenvolvimento social e familiar, foi (e é) também combatida. Hoje, a autoridade caiu em um limbo semântico e poucos a compreendem e a exercem com clareza. Na família, essa confusão parece ter resultados avassaladores. Vivemos hoje uma era de autoritarismo infantil.
O tão temido autoritarismo, ao qual se atribuem tantos traumas e dificuldades emocionais de gerações anteriores, continua presente na família e traumatizando pessoas, no entanto de modo invertido: crianças que agem como reizinhos mandões e os pais se mostram traumatizados. Ouço muitos relatos de pais que se dizem traumatizados pelos filhos desobedientes, opositores e de personalidade forte que parecem que já nascem sabendo o que querem.
O fato é que hoje, temos algumas gerações de pais perdidos, totalmente amputados em sua autoridade em relação aos filhos e, com isso, crianças desorientadas, que se tornam difíceis e, com o tempo, insuportáveis até mesmo para os próprios pais. Sim, é triste dizer isso, mas essa é a realidade. Encontro pais absolutamente desaminados e esgotados pelo convívio com crianças birrentas ao extremo, mandonas, que se opõem a tudo que é orientado e que para fazer valer seus desejos gritam, batem, se machucam, enfim, se mostram necessitadas de uma autoridade que as oriente.
Pais, é urgente retomarem as rédeas da orientação dos seus filhos, eles estão “gritando” por isso. Autoridade não é autoritarismo e há uma necessidade iminente de que vocês pais e a sociedade em geral se conscientizem disso e revejam posturas.
Nossas crianças estão adoecendo por não identificarem nos pais a autoridade que precisam para sentirem-se guiadas na vida. A segurança, a tranquilidade, a paz e a inspiração que se sente ao identificar aquela pessoa que ama, que exige, que se doa para que o crescimento aconteça custe o que custar está em falta na experiência de vida dos nossos pequenos. Não se deixem levar pelo discurso bonito da liberdade, da felicidade a todo momento, sem terem certeza do que, de fato, é liberdade, de como verdadeiramente se constrói a felicidade.