Colunista

Redes sociais: mais viciantes que sexo ou cigarro?

Nos últimos anos, diversos estudos vêm apontando como as redes sociais e os dispositivos móveis afetam profundamente nossas rotinas, comportamentos e até mesmo nossas relações pessoais. Pesquisas da Universidade de Chicago (2016) mostraram que as redes sociais podem ser mais viciantes do que o sexo ou o cigarro. Já em 2017, cientistas da Universidade da Virgínia (EUA) e da Universidade de Colúmbia Britânica (Canadá) revelaram que uma em cada dez pessoas chega a atender notificações de mensagens em qualquer situação, até mesmo durante o ato sexual.

O mesmo levantamento trouxe outros dados alarmantes: 95% das pessoas consultam o celular em encontros sociais; 70% interrompem suas atividades de trabalho para interagir com o smartphone.

Esses números não apenas revelam uma dependência crescente, mas também expõem como a tecnologia molda nossa forma de estar no mundo.

 

A ilusão da conexão infinita

As tecnologias sem fio e os dispositivos portáteis eliminaram restrições de tempo e espaço, permitindo estar “sempre conectado”. O pesquisador Jonathan Crary afirma que essa mudança aniquilou a singularidade dos lugares e dos acontecimentos, criando uma sensação de disponibilidade permanente.

Mas essa conexão constante não significa presença plena. Paradoxalmente, estamos cada vez mais isolados em meio a uma multidão digital — um “isolamento fantasmagórico”, como define Crary. Estamos conectados a muitos, mas dispersos de nós mesmos.

 

Saturação, ansiedade e tédio

O acesso irrestrito a informações, vídeos, músicas e conteúdos diversos alimenta uma sensação constante de que sempre há algo mais interessante a descobrir. No entanto, essa promessa vem acompanhada de frustração, ansiedade, cansaço e tédio.

Se antes o mal-estar humano vinha da falta ou da proibição, hoje ele nasce do excesso e da dispersão. Sofremos não porque algo nos falta, mas porque tudo nos sobra — e nos perdemos nesse mar de estímulos sem fim.

 

E agora?

A pergunta que fica é: como transformar essa conexão infinita em algo que realmente enriqueça a vida? Como usar a tecnologia sem ser usado por ela? Talvez o desafio da nossa geração seja justamente este: reencontrar sentido e presença em meio ao excesso.

Conectar-se é inevitável, mas estar inteiro em cada encontro, em cada tarefa e em cada relação talvez seja o verdadeiro antídoto contra o mal-estar digital.

Por Judinei Vanzeto, SAC – Padre Palotino, Jornalista, Mestrando em Comunicação e Cultura pela Universidade Buenos Aires, Argentina.

 

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