Colunista

Entre Notificações e Dependência: O Mal-Estar Digital da Nossa Época

O mal-estar contemporâneo diante do uso da internet e das telas não nasce apenas da dificuldade de “desligar-se”. Muitas vezes, pensamos que basta uma decisão individual e voluntária para reduzir o tempo desperdiçado online — mas essa tentativa quase sempre fracassa.

O problema é mais profundo: ao contrário de atividades proibidas por serem imorais ou ilegais, a conexão digital é algo fortemente incentivado. Vivemos mergulhados em convites constantes para permanecer conectados, embora também sejamos advertidos de que o uso excessivo, incorreto ou abusivo pode prejudicar outras dimensões da vida — como a produtividade ou mesmo a possibilidade de uma vida plena.

 

Celular: nova substância psicótica

Os celulares, nesse sentido, parecem assumir hoje o lugar que antes era ocupado por certas substâncias psicoativas. Criam-se dinâmicas de dependência psicofísica, com dificuldade de autocontrole. As pequenas doses de estímulos oferecidas diariamente — notificações, alertas, recomendações de algoritmos — funcionam como gatilhos de prazer. A sensação é de livre escolha, mas, na prática, torna-se necessário aumentar cada vez mais a “dose” para alcançar o mesmo efeito.

Esse quadro dialoga com as reflexões de Freud sobre os estupefacientes em sua época. Drogas e álcool, dizia ele, tinham a capacidade de “afastar a tristeza” ou “dissolver as preocupações”. Contudo, sua eficácia era apenas moderada e acompanhada de um custo elevado: um imenso desperdício de energia que poderia ser investido em melhorar o destino da humanidade.

A analogia é poderosa. Talvez nossos celulares e redes sociais estejam hoje ocupando um papel semelhante: um alívio rápido para a ansiedade e o tédio, mas que rouba recursos — tempo, atenção, energia — que poderiam ser aplicados em experiências mais ricas e significativas.

Como encontrar equilíbrio no uso da tecnologia? Como resgatar tempo e energia para aquilo que realmente importa — nossa criatividade, relações, espiritualidade e humanidade?

Por Judinei Vanzeto, SAC – Padre Palotino, Jornalista, Mestrando em Comunicação e Cultura pela Universidade Buenos Aires, Argentina.

 

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