Colunista

Potência Demiurgo da Ciência Eletrônica

Vivemos em uma era em que a ciência eletrônica se apresenta como uma verdadeira potência demiúrgica, capaz de criar novos mundos, reorganizar a realidade e redefinir os limites da experiência humana. O termo demiurgo, herdado da filosofia platônica, remete a uma força criadora que molda a matéria e dá forma ao caos. Aplicado à eletrônica, significa reconhecer que os circuitos, algoritmos e sistemas digitais não apenas servem como ferramentas, mas atuam como arquitetos de uma nova ordem social, cultural e até existencial.

A ciência eletrônica é hoje a base invisível sobre a qual se erguem as principais estruturas da vida contemporânea. Desde o microprocessador que comanda o funcionamento de um simples eletrodoméstico até as redes planetárias que sustentam a comunicação global, a eletrônica configura uma espécie de “código da criação”. Não por acaso, fala-se de uma nova cosmogonia tecnológica, na qual as leis da natureza se entrelaçam com as leis da computação.

 

Três dimensões

Esse caráter demiúrgico manifesta-se em três grandes dimensões. A primeira é a dimensão produtiva, onde a eletrônica potencializa a automação industrial, a inteligência artificial e a robótica, transformando o trabalho e as formas de produção. Máquinas inteligentes não apenas executam tarefas, mas aprendem, preveem e até sugerem caminhos inéditos, atuando como co-criadoras junto ao ser humano.

A segunda é a dimensão social, marcada pela interconexão global. Redes digitais, dispositivos móveis e plataformas eletrônicas moldam a comunicação, a política e as relações afetivas. A experiência humana, mediada por telas e sensores, passa a ser reconfigurada por fluxos de informação incessantes. Nesse sentido, a ciência eletrônica age como uma força que não só reflete a sociedade, mas a reinventa continuamente.

A terceira dimensão é a ontológica, talvez a mais profunda. Ao integrar biotecnologia, nanotecnologia e eletrônica, surgem novas formas de vida híbrida: próteses inteligentes, interfaces cérebro-máquina, sistemas de realidade aumentada. A fronteira entre natural e artificial se torna fluida, aproximando-se da ideia de um demiurgo que modela não apenas objetos, mas a própria condição humana.

 

Desafio ético e político

Todavia, como toda potência criadora, a ciência eletrônica carrega ambivalências. A mesma força que expande possibilidades também traz riscos: vigilância massiva, desigualdade digital, dependência tecnológica. O desafio é, portanto, ético e político: como orientar esse poder demiúrgico para que ele seja emancipador e não opressor?

Conclui-se que a ciência eletrônica, na atualidade, não é apenas uma ferramenta, mas uma verdadeira potência demiúrgica que molda nosso presente e abre horizontes para futuros ainda inimagináveis. Cabe à humanidade, como coautora, assumir a responsabilidade nesse processo criador, pois o ser humano é chamado a ser continuador da obra da Criação.

Por Judinei Vanzeto, SAC – Padre Palotino, Jornalista, Mestrando em Comunicação e Cultura pela Universidade Buenos Aires, Argentina.

 

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